A intrigante descoberta do fósforo
No fim do século XVII, Henning Brand, um alemão de Hamburgo que havia participado da Guerra dos Trinta Anos, casou-se com uma mulher muito rica. Esse sortudo germânico era um pseudo-médico bastante aloprado e sem muito tino para a profissão.
O fato de estar bem ancorado financeiramente permitiu que ele se dedicasse à alquimia. Muita gente sem ter o que fazer, mas com muita ambição, dedicou-se à alquimia.
Como sabemos, o foco (palavra essa dita “ad nauseum” atualmente) dos alquimistas era a busca da “pedra filosofal” para a transmutação de qualquer coisa em ouro. E, baseando-se em Paracelso, para quem a natureza apresentava as coisas de forma simbólica para serem interpretadas, Brand encucou, pela cor, que o segredo para obter ouro estava na urina humana.
Talvez por beberem muita cerveja, a urina dos alemães já era, desde aquela época, constantemente amarelada. Seguindo essa intuição, Brand acabou deixando a mulher e seus vizinhos extremamente irritados por armazenar em seu laboratório dezenas de baldes com urina humana.
Depois daquela urina toda atingir um estado inimaginável de podridão, ele ferveu tudo até obter uma coisa preta e pastosa. Em seguida misturou aquela excrescência com areia e água e promoveu a destilação da horrenda meleca resultante. Ao final dessa experiência inusitada, obteve uma substância pegajosa e transparente que às vezes se inflamava, desprendendo vapores brancos.
Sabem o que o dito cujo alemão acabou descobrindo? O fósforo – nome batizado por ele a partir do grego phos (“luz”) e phoros (“o que dá”). E o método, nada perfumado, para a produção dessa substância passou a ser um dos segredos mais bem guardados durante muito tempo.
Todavia, tempos depois a grana falou alto, Brand não resistiu e acabou vendendo o segredo para um tal de Dr. Krafft. Este passou, como era praxe na época, a fazer demonstrações das propriedades do fósforo por toda a Europa, ganhando com isso muito dinheiro. Como sói acontecer, há sempre um espertinho que acaba ganhando muito a partir do trabalho alheio.
Pouco tempo depois desse episódio, ninguém menos do que Leibniz, o portentoso gênio alemão, a serviço do Duque de Hanover, entra em cena e convence Brand a produzir fósforo em larga escala.
Para tanto, Leibniz dispunha, como suprimento para a produção, de um enorme contingente de bebedores de cerveja – os soldados de um acampamento militar e também os mineiros das montanhas Harz. Dessa forma, quantidades significativas de barris de urina eram transportadas em carroças por cerca de 100 km até o novo laboratório de Brand em Hanover.
Depois de algum tempo, Leibniz desistiu daquele projeto que ninguém ficou sabendo ao certo qual era, deixando o compatriota com um enorme e fedorento lago de urina humana.
Supõe-se que Leibniz achou que poderia iluminar cômodos à noite, mas, ao saber que ocorreria a eliminação de gases tóxicos que envenenariam ou cegariam as pessoas, desistiu do tal projeto.
Em 1737, o segredo da produção do fósforo foi comprado pela Academia Francesa, e esta acabou tornando o método disponível para todos os cientistas.
Meio século mais tarde, o sueco Sheele descobriu que o fósforo era constituinte dos ossos e criou um método menos repugnante para sua obtenção. Sabe-se lá como...
Mais adiante apareceram os palitos de fósforo, e outro sueco, Lundströn, inventou os tais fósforos de segurança, tendo, com isso, amealhado uma enorme fortuna. Sheele, entretanto, não recebeu nada por suas pesquisas. Aliás, ele fez também várias outras descobertas, incluindo o oxigênio, e não obteve recompensa financeira alguma. Acabou morrendo com apenas 40 anos, provavelmente intoxicado por mercúrio.
Quanto ao fedorento lago de Brand, não se tem notícia do que aconteceu.
Adalberto Nascimento
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