sábado, abril 15, 2006

O cavalo que sabia aritmética

No início do século XX um alemão, Wilhelm von Osten, começou a assombrar o mundo com seu cavalo Hans. Hans sabia contar e fazer cálculos assombrosos para um cavalo. Quando Wilhelm escrevia no quadro negro, por exemplo, a soma das frações 1/2 + 1/3, Hans dava o resultado exato: 5/6.

Isso de soma de frações boa parte dos leitores nem se lembra mais como se faz. Recapitulando, temos que inicialmente achar o mínimo múltiplo comum dos denominadores das frações, que no caso é 6, e, transformando-as em frações equivalentes com o mesmo denominador, somar 3/6 + 2/6, que dá 5/6.

Agora imaginem um cavalo dar a resposta certa! Daí o alemão com seu cavalo fazerem enorme sucesso, tornando-se celebridades e aparecendo em inúmeras reportagens de jornais europeus. Wilhelm, com a famosa tenacidade germânica, dizia ter levado dez anos ensinando aritmética a Hans. Talvez também tivesse paciência de monge tibetano.

O leitor, a esta altura, deve estar julgando tudo isso, no mínimo, uma ficção, mesmo porque animal não fala. E, se Hans não falava, como respondia às questões? De modo cavalar, é claro – com patadas.

Quando Wilhelm escrevia no quadro-negro 1/2 + 1/3 e perguntava a resposta, Hans dava cinco patadas no chão (o numerador da resposta) e, após uma pausa, seis patadas – o denominador!

Agia de maneira análoga para outras frações. E, surpreendentemente, dava também os divisores de um dado número. Um espanto! A molecada de hoje ficaria com sensação de burrice diante dos prodígios daquele cavalo!

É claro que deveria haver um truque, mas ninguém descobria como funcionava. E o que se faz nessas horas? Nomeia-se uma comissão. Nosso governo é pródigo nisso!

O fato é que uma comissão de especialistas comandada pelo famoso psicólogo alemão Karl Stumpf, depois de muitas observações, chegou à conclusão de que Hans realmente era craque em aritmética. Uma coisa fantástica. Coisa de cavalo alemão!

Todavia, um aluno de Stumpf, Oskar Pfungst, levou a cabo algumas experiências que resultaram em conclusão oposta. Oskar simplesmente propunha questões a Hans de forma tal que Wilhelm, embora presente, não pudesse vê-las. Nessa condição Hans se comportava como um burro – não acertava nada!

A conclusão final: Hans sentia qualquer reação sutil (levantamento de sobrancelha ou leve dar de ombros imperceptível a todos) ao cessar a ansiedade de Wilhelm e parava de bater a pata – e nem o próprio Wilhelm tinha mais consciência disso. Afinal, foram 10 anos de treinamento e a comunicação do alemão com seu cavalo passou a ser através de gestos extremamente sutis.

Quem tem um cachorrinho sabe da existência dessa comunicação.
Adalberto Nascimento