sábado, abril 15, 2006

Uma leve história gasosa

O flamengo Jan Baptista von Helmont nasceu em 1577 e, embora tenha estudado medicina, transformou-se num físico com tendências ao misticismo, o que era muito comum naquela época. Ressaltamos ao leitor que flamengo aqui não tem nada a ver com futebol: é a designação de uma etnia predominante na Bélgica.

E com esse breve intróito étnico-futebolístico, abordaremos de forma sucinta uma interessante experiência realizada por Von Helmont.
Ele colocou terra seca num vaso de cerâmica e plantou uma muda de salgueiro (que também não tem nada a ver com escola de samba), mantendo o vaso imune a influências externas e protegendo-o de poeiras. A planta foi regada diariamente com água destilada.

Após 5 anos (haja regador!) retirou o salgueiro, que nessa altura (aqui essa palavra adquire duplo sentido) já era uma árvore. Em seguida, secou a terra remanescente e constatou que a perda de peso da terra em relação ao peso original era insignificante.

E, por desconhecer o processo biológico do crescimento vegetal, concluiu que a árvore e sua folhagem eram constituídas de água. Chegou, assim, após muita regadas, à mesma conclusão de Tales de Mileto, que cerca de 2000 anos antes afirmara “que tudo era água”.

Entretanto, Von Helmont desconfiou que o ar tinha alguma participação importante na transformação do salgueiro. Na ocasião os alquimistas faziam uma grande confusão entre “ares”, “vapores” e “espíritos”, mas a despeito disso Von Helmont resolver também a estudar essas substâncias.

Em experimento subseqüente, queimou 28 quilos de carvão, resultando como sobra 500 gramas de cinzas. Concluiu então que, dos 28 quilos iniciais, 27,5 quilos eram de uma substância semelhante ao ar, a que chamou de spiritus sylvester (“o espírito da mata”) – e que, na realidade, nada mais era do que aquilo que hoje conhecemos por dióxido de carbono.

Von Helmont também concluiu que o spiritus sylvester tinha as mesmas propriedades do “ar” produzido pela fermentação do vinho e da cerveja, pela queima do álcool e por processos semelhantes. Alguns eram combustíveis, outros tinham odores específicos; por falta de dispositivos adequados, porém, Von Helmont não conseguiu estudá-los de forma detalhada.

Achou, o nosso alquimista, que essas substâncias eram constituídas de uma “pré-matéria”, substância amorfa a partir da qual a matéria era feita. Baseando-se na mitologia grega, segundo a qual o cosmo foi criado a partir do caos, uma substância informe e desordenada, Von Helmont chamou os vapores ou substâncias semelhantes ao ar de “caos”, cuja pronúncia em flamengo e de forma fortemente gutural deu origem à palavra “gás”.

Adalberto Nascimento


1 Comments:

At 2:31 AM, Anonymous Anônimo said...

Parabénspeo post, muito legal, mas gostaria de saber a fonte.

Abraços!

 

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