domingo, abril 16, 2006

Aquellos ojos verdes

Que música maravilhosa!

Mais ainda quando cantada, “veludamente”, por Nat King Cole. E com aquela orquestração caprichada dos anos 50!

“Aqueles olhos verdes, que eu nunca beijarei” – um bolerão de Nilo Menéndez e Adolfo Utrera. Mexicanos, é claro... (Depois de muito tempo, concluí que todos os boleros são, por definição, mexicanos, assim como os paraguaios, com aquela harpa, vivem em trios...).

E, “en aquellos ojos verdes”, o inconfundível erre arrastado de gringo... Que delícia! Acabou ajudando-nos – os caipiras –, a eliminar a boba vergonha do nosso sotaque. Se aquele negrão podia, por que não “nóis, do interiorrr”?

E daquele poema cantado nos sobra a lembrança de belas coisas que num passado dolorido deixamos de fazer, que “nunca besaremos”, e das quais só ficamos com uma baita saudade doída... Doída, mas gostosa. E, ao mesmo tempo, pesando-nos o remorso daquele passo a mais que não demos; daquela audácia que não tivemos; daquele “bundão” que fomos...

É assim mesmo: as belas e antigas músicas nos fazem lembrar daquelas coisas pungentes que fizemos e, sobretudo, das que deixamos de fazer – e que faríamos agora, porque velhos; ou, até por isso, tentaríamos fazê-las...

Na verdade, faríamos, sim, com a cabeça de hoje, coisas de que nos acovardamos; e, por não as termos feito, sobra-nos essa sensação de coito vital interrompido.

E, para os que sabem do que falo, certamente isso tudo é porque, na maior parte dos casos, faltou mesmo “o falo certo nas horas certas”. E até nas incertas, quando tudo “falaria” duro e mais forte. É, sim, desse tipo de dureza de que também falo, “pero con ternura”...

E as “eternas sedes de amar”, de que diz a música, são, na realidade, as eternas sedes de não sermos o que hoje achamos que deveríamos ter sido. Sempre é assim... E sempre será, a despeito de toda a experiência que supomos em nós acumulada.

Essa “experiência” pode ser, em excesso, de razão, mas nunca de emoção. O balde da emoção é impreenchível... Apesar disso, sempre sentiremos a falta de, pelo menos, tentar preenchê-lo. E é por isso que ainda hoje, de um jeito ou de outro, ao ouvirmos certas músicas, ainda tentamos fazê-lo. Mesmo que apenas com lágrimas de saudades...

Adalberto Nascimento