Pesadelo politécnico
Há mais de uma década participei de um jantar com politécnicos sorocabanos. É claro que foi um jantar caipira. Éramos nove ao todo. A maioria era mais idosa do que eu e o Moko - com pelos menos uns dez anos a mais. Tanto é que alguns daqueles comensais, infelizmente, já se foram.
Num dado momento daquele encontro, já sob o efeito de alguns tantos copos de cerveja, perguntei, meio que mineiramente e na moita, se alguém tinha sonhos recorrentes relacionados com o tempo da Escola.
A maioria respondeu que sim e, em seguida, vieram as descrições dos mais estranhos tipos de sonhos... Na realidade, pesadelos.
Meu questionamento decorreu de que na noite anterior eu havia tido um mau sonho com a Escola e, com as respostas, acabei descobrindo, até para meu alívio, que não era o único psicótico de plantão.
Isso aconteceu em 1993. A partir de então os meus sonhos politécnicos, ou melhor, pesadelos, ficaram menos recorrentes, mas não foram exterminados. De vez em quando ainda sonho que estou com uma dependência, que fiquei por falta numa dada matéria, ou, o que é mais terrível, que estou numa prova cabeluda fazendo a Escola pela segunda vez.
As respostas naquele jantar, em meio a gargalhadas etílicas, não foram suficientes para exorcizar meus demônios noturnos. Por causa disso é que nas reuniões que tivemos da Cadopo (ex-moradores da Casa do Politécnico) fiz aquela mesma pergunta em diversas rodinhas de papo, e a maioria dos cadopolitanos também demonstrou padecer desse trauma.
Na reunião do ano passado, um dos nossos amigos, que eu julgava imune a essas angústias, me contou que durante muito tempo dormiu com a carteirinha do CREA na cabeceira da cama para, ao acordar de um pesadelo, ter a confirmação de que já era diplomado.
Discutindo com amigos na reunião deste ano (2004), chegamos à conclusão de que isso acontece mais freqüentemente com os alunos que, como eu, levaram a escola “no tapa”. Os bons alunos – caso do Alemão –, nunca tiveram pesadelo algum.
Somado à displicência escolar, como bem conjecturaram o Alfredo, Malavolta e Calvito, o fato de sermos adolescentes interioranos, com dificuldades financeiras numa cidade massacrante, professores insensíveis e vida sexual mal resolvida em época efervescente de nossa juventude foram marcantes para a nossa insegurança. Daí o desleixo, como uma espécie de fuga.
Como compensação a essas adversidades, sobrava-nos a solidariedade de iguais – a dos “psicos”. Daí a importância da Casa em nossas vidas: era o porto dos que estavam no mesmo barco.
E nesse barco, espero, navegaremos juntos até o fim.
Adalberto Nascimento
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